Manifesto do IMECC/Unicamp: Em defesa da Educação, Ciência e Tecnologia.

A Congregação do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Universidade Estadual de Campinas aprovou, em sua 3a Reunião Ordinária de 2019, realizada no dia 06/06/2019, o seguinte manifesto.

Manifesto do IMECC-Unicamp

Em defesa da Educação, Ciência e Tecnologia

A Congregação do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Universidade Estadual de Campinas, IMECC-Unicamp, vem a público manifestar sua preocupação frente às recentes atitudes do governo federal em relação às essenciais áreas da Educação e da Ciência e Tecnologia.

Os bloqueios orçamentários anunciados em 29/4, de R$2,13 bilhões no Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e de R$5,83 bilhões no Ministério da Educação, este último sendo o absolutamente mais atingido, implicam em um enorme impacto sobre a viabilidade e o funcionamento de nossos sistemas nacionais de formação superior e pesquisa, além de centenas de unidades federais de Educação Fundamental e Média. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) informou que só tem recursos para manter suas quase 80 mil bolsas até setembro, comprometendo de forma crítica estes projetos e os recursos públicos já investidos.

Também a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) anunciou em 04/06/2019 o não prosseguimento de mais de 2700 bolsas de pós-graduação. Tal situação põe em risco a continuidade e a consolidação de diversos programas, impactando a pesquisa em nível de pós-graduação no Brasil. Uma conquista que tem demandado da sociedade brasileira dedicação, afinco e investimento por décadas.

Estranhamos e repudiamos o fato de que, desde a posse do atual governo, a Universidade Pública ter sido vilipendiada pelo próprio gabinete federal, recebendo acusações descabidas, por vezes sob pretexto ideológico explícito. Em episódio amplamente divulgado pela imprensa, o governo manifestou a intenção específica de diminuir o financiamento dos cursos de Ciências Humanas, como História, Sociologia e Filosofia, como se houvesse algum primado das Ciências Exatas ou Biológicas no conhecimento útil ao País.

Sobre a nossa área de atuação, observamos que a Matemática, como linguagem das formas e quantidades, serve à produção e à cidadania quando utilizada em contexto, ou seja, em inter-relação com as demais formas de ler e descrever o Mundo. Assim é, por exemplo, que um corte linear de 3,5% no orçamento das universidades federais pode parecer pequeno, quando se omite do cálculo que o principal ativo destas organizações é seu capital humano, que responde por até 90% do montante total. Portanto, o corte em verdade corresponde, em certos casos, a até 30% do orçamento discricionário remanescente, com o qual devem-se cobrir todos os demais custos de funcionamento da instituição, e consequentemente inviabiliza sua atividade regular. A Matemática, aliada à compreensão social do contexto, tem o enorme potencial de subsidiar quantitativamente o debate racional, pelo qual a verdade prevalece sobre a desinformação.

Da mesma forma, é com investimento em ciência que se combatem epidemias, que se minimizam danos gerados em desastres ambientais e que se propõem e se criticam modelos econômicos. A Matemática, a Estatística e suas aplicações oferecem à sociedade esclarecimentos em busca de soluções para nossos problemas mais graves.

Estima-se que as profissões matematizadas, com destaque para a Ciência de Dados, poderiam agregar até R$1 trilhão de reais por ano à nossa economia; trata-se do equivalente a toda a redução de custos alegada na atual proposta de Reforma da Previdência, que tramita no Congresso Nacional, nos dez primeiros anos de sua implantação. Isso porém exigiria um enorme esforço de treinamento de nossos jovens, a partir dos nossos centros de excelência em institutos de pesquisa e universidades públicas, que respondem por 95% da produção científica brasileira. Afirmamos com isso que, em todas as sociedades desenvolvidas, a ciência de alto nível é investimento, parte essencial das soluções e jamais um problema. O Brasil deve agir da mesma forma, respeitando suas instituições de educação e pesquisa, reafirmando o compromisso público com a transparência, a racionalidade e o valor social de todas as formas de saber.

O IMECC-Unicamp reafirma sua disposição e disponibilidade para contribuir, de forma proativa, respeitosa e democrática na busca de soluções para os graves problemas que enfrentamos no país.

Manifesto do IMECC/Unicamp: Em defesa da Educação, Científica e Tecnologia (versão PDF)