Por Eduardo Filpo

É difícil precisar quando nasceu a idéia da GêBR, talvez porque ela surgiu primeiro como uma percepção, depois como um sentimento e finalmente como um forte desejo que gradativamente ganhou forma e se tornou claro.

A percepção surgiu no inicio da década de 90, quando eu era aluno de doutorado do PPPG/UFBA. Lá tive a oportunidade de conhecer grandes professores, grandes alunos e uma excelente produção científica na forma de programas aplicados principalmente ao processamento sísmico. Logo percebi que aqueles programas eram cientificamente muito superiores aos fornecidos pelos pacotes comerciais que custavam uma fortuna, mas apesar disto eram poucos aqueles que eram utilizados em escala de produção. Daí o sentimento de frustração que logo começou a evoluir para um desejo de construir um pacote de processamento geofísico brasileiro.

Por muito tempo este desejo me pareceu um sonho impossível de ser realizado, mas as experiências foram se sucedendo e os caminhos para realizar o sonho foram se descortinando um a um. O que eu vou colocar aqui é um pouco da motivação para criar a GêBR e um pouco sobre como este desejo começou a se concretizar.

Muito contribuiu para a concepção da GêBR, a percepção de que o uso de software livre poderia funcionar como um elemento de integração entre a Petrobras e universidades no desenvolvimento de pesquisa em regime de cooperação, mais precisamente isto ocorreu durante o desenvolvimento das pesquisas dos termos de cooperação da Gerência de Tecnologia Geofísica com a UNICAMP e UFPR, coordenados por Ricardo Biloti, onde se adotou o SU como o padrão para os programas gerados.

Outro ponto determinante na idealização da GêBR foi a utilização de laboratório de computação com sistema Linux na disciplina de métodos sísmicos em diversas edições Curso Introdutório de Geofísica, onde os exercícios práticos consistem em rodar programas prontos com diversas parametrizações diferentes. Já na primeira edição deste curso (2000) percebeu-se que os alunos apresentavam duas grandes dificuldades: a edição de “scripts” previamente preparados e o gerenciamento da massa de dados gerada. Na terceira edição deste curso (2003) passou-se a executar os exercícios através da interface “cigef” criada com o construtor de interfaces GLADE.

A interface “cigef” não só cumpriu o papel de “facilitar a vida dos alunos”, como fez o professor acreditar na idéia de ser possível construir uma interface de processamento sísmico apenas com a utilização de ferramentas de software livre.

Após algumas tentativas frustradas de construir uma interface mais elaborada com o GLADE, eu percebi que tinha que abandonar o “intermediário” e trabalhar diretamente com a biblioteca GTK na qual o GLADE é baseado. Apesar de rapidamente ter enxergado o caminho foi muito difícil para este geofísico tomar coragem para começa-lo. O primeiro passo neste sentido foi começar a ler o livro “GTK em 21 dias” tomado emprestado do Rodrigo Portugal. Antes de chegar na página 21 eu já havia percebido que a empreitada, apesar de possível, não era tarefa para um amador, mas talvez fosse para alguns. Isto fez com que eu parasse de estudar, mas não de sonhar e pensar em como conquistar mais alguns amadores para compartilhar este sonho.

Fiquei apenas sonhando e pensando até o outubro de 2004, quando ganhei da Petrobras um laptop Compaq como prêmio pelo trabalho apresentado no SIMGEF (Simpósio de Geofísica). Embalado pela satisfação de ser premiado, decidi fazer um bom uso do prêmio e comecei a aprender GTK para encarar a empreitada, mesmo sabendo que não a terminaria, mas certo de que eu precisava ter algum êxito para atrair mais alguns amadores.

Em julho de 2005, a primeira versão da GêBR já estava funcionando e precisava ser testada de maneira efetiva, foi quando surgiu uma grande oportunidade: um curso de processamento que tinha como parte prática o processamento completo de 2 linhas de dados reais. Antes de propor o uso da GêBR como interface de processamento, registrei o software GêBR no INPI com o intuito de garantir o direito de propriedade do mesmo.

Entre outubro e novembro de 2005, a GêBR foi usada com sucesso na disciplina de processamento sísmico do curso de aquisição sísmica realizado na UFPR. Vale ressaltar que a colaboração dos geofísicos Fernando Roxo e Álvaro Gomes foi fundamental para o sucesso desta empreitada.

Depois do batismo de Curitiba, eu senti que a GêBR estava na hora de partir para a conquista de outros amadores, mas como? A primeira tentativa, por sugestão de Rodrigo Portugal, foi a submissão de um projeto para o desenvolvimento auto-sustentável da GêBR ao CNPQ (anexo I). Com a não aprovação do projeto, eu abri a GêBR para aqueles “amadores” que haviam demonstrado um certo encantamento pela idéia, formando o primeiro grupo de desenvolvedores: Fernando Roxo, Ricardo Biloti e Rodrigo Portugal e eu.

A partir da formação do grupo, Ricardo Biloti assumiu a liderança no desenvolvimento, o amadorismo foi sendo deixado de lado, outros grandes amadores foram sendo atraídos e o sonho encontrou a rota da realização.

E quanto ao nome? Acho que ele também teve sua origem no meu doutorado. Por falta de maturidade eu não escrevi a dedicatória da minha tese adequadamente. O tempo me fez perceber que eu talvez tivesse perdido a única oportunidade de homenagear uma pessoa que eu amo muito; mais um vez um sentimento que virou desejo.