Romances de P. O. Bogus
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   No se sabe exactamente qué pensaba P. O. Bogus del verso libre, o
blanco, al cual él llamaba simplemente "sin rima". En algunos escritos
dice admirar a los versolibristas que, sin el marco artesanal de la
métrica y los ritmos rigurosos, consiguen transmitir un espíritu poético.
Pero consta que un buen porcentaje de las poesías libres (se habla de un
67 por ciento) lo dejaba simplemente perplejo y con una rabiosa sensación
de estar perdiendo el tiempo. Por eso, cuando los tradicionalistas
atacaban a los verseadores sin rima, P. O. Bogus no conseguía esconder una
difusa sonrisa complaciente. 
  De hecho, Bogus, un primitivo, escribía romances cuando la rima le
resultaba difícil. Los romances, como se sabe, usan rima apenas asonante,
en los octosílabos pares: una bagatela. La mayoría de sus romances, en
consecuencia, los escribió en los idiomas que dominaba menos: sánscrito,
arameo y japonés, pero de estos se conservan pocos. Por motivos que se
desconocen, Bogus llamaba "romances" a todos sus escritos en portugués,
que la crítica prefería encuadrar en el rubro "Literatura de Cordel". 


Romance do meu encontro com Mestre Egídio (Dezembro 2001)
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Os olhos de Mestre Egídio
são azuis, como o caderno
azul que leva na pasta
no qual escreve seus versos.
Quatro cadernos trazia:
aquele azul, o vermelho,
também o branco, da paz,
e outro caderno amarelo.
Os quatro de capa dura,
de capa dura seus versos.

As barbas de Mestre Egídio
não são as barbas dum velho,
são as barbas de quem vive
diversas vidas num tempo.
Vida de ourives poeta,
e dos sonhos garimpeiro,
vida de quem faz espadas
de samurai, e guerreiro,
de combatente de amor
e cantador de mistérios.

Tantas vidas vive o Mestre
e de modo tão intenso
que nem todas as palavras
podem dar conta do reto.
Por isso é que precisava
contar causos com silêncios
enquanto muitas palavras
- nomes, pronomes e verbos -
atropelam-se no papo
para ver quem sai primeiro.

Suas histórias não se escrevem,
se esparramam pelo vento,
são sementes que o acaso
deposita em seus cadernos.
Ai, Maria Aparecida!
Mulher de gloriosos feitos,
não raspavas teus bigodes
pois sabias que eram belos
para um certo Lamparina,
teu marido cangaceiro!

Seu amigo é Zé Limeira,
mesmo morto, aquele negro
que hoje anda cantando coplas
indo dos céus pros infernos.
Quando canta seus absurdos
assim se queixa São Pedro:
"Limeira, ve se te manca,
tu não conhece Ionesco?"
Limeira, sem saber nada,
faz um cordel pro romeno.

Me fala de Daniel Fiúza,
poeta paulista e honesto
e do Guido Carlos Piva
e também dos desafetos.
Quem brigar com Mestre Egídio
afie as facas, que é sério
e esteja pronto pro abraço
pois na paz vai ser sincero.

"Esta é Ana, minha musa"
Minha mulher lhe apresento,
e ele me fala da sua:
"... por quem sinto amor imenso;
ela me deu cinco filhos
do total de dez que tenho
e também, por extensão,
as duas dúzias de netos.
Veja a foto, não envelhece!
Veja, amigo, seus cabelos!"

E, assim, passamos a tarde
como dois amigos velhos
que não se importam que passe
entre os encontros, o tempo.
Falamos também de Lope
de Vega e de Martín Fierro
e, na estação rodoviária
"Até Belém", prometemos.
Foi em Campinas, São Paulo,
um 26 de dezembro.