Olá, Luiz Felipe.
A integral que aparece no exemplo 5, já na página 1024 ...é chata, mas
muito importante para a cultura geral de um estudante que faz exatas,
vale o sacrifício, se você não souber da história por trás do tal
exemplo 5, uma tribo nerd de outras universidades vai rir de você, dizer
que aqui em Campinas a Unicamp fica na terra que o boi falou etc., dirão
que somos caipiras, os professores da USP, se souberem, vão rir de mim,
vai ser uma tragédia.
Vamos conversar sobre ela, que será, com as manobras das páginas 1024 e
1025, resolvida com integrais duplas e coordenadas polares, como vou
tentar explicar em detalhes neste email.
parte1: Apenas observações. A importância da tal integral para a
definição da Erf e das distribuições gaussianas.
Primeiro, a tal integral é definida com limites infinitos mesmo,
I = Integrate[Exp[-x^2], {x, 0, infinito}],
é aquilo que chamamos de integral imprópria. A matemática torna precisas
as integrais impróprias empregando limites, define a integral acima como
o limite, quando b tende a infinito, da integral
I(b) = Integrate[Exp[-x^2], {x, 0, b}].
Esta integral existe, pois a teoria garante que existe sempre a integral
de uma função contínua num intervalo.
Porém, pode-se mostrar que a função I(b) da variável b, definida por
esta integral não pode ser escrita com as funções que, até um certo
momento, existiam no vocabulário humano ...funções como potências,
senos, exponenciais.
Como esta integral é muito útil no estudo de probabilidades, aparecia a
todo momento, resolveram definir uma nova função no tal vocabulário,
definiram
Erf(b) = 2/((pi)^(1/2)) Integrate[Exp[-x^2], {x, 0, b}],
veja na primeira foto anexa, no help do mathematica a definição de Erf
...sempre use o help quando aparecer alguma função que não conhece, é
muito fácil de usar, basta clicar no menu HELP e digitar Erf ...e lá, em
Details, você acha a definição desta função, que está implantada no
mathematica. Também acha algumas de suas propriedades ...se procurar no
google também achará muita coisa sobre a Erf, cujo nome é Error
Function.
O fator numérico, que é o inverso da metade da raiz de pi é escolhido de
forma que Erf(b) tenda a um quando b tende a infinito. Este lance de
tender a um é para facilitar as aplicações em estatística. A
distribuição normal de Gauss é uma espécie de distribuição que é um
limite de muitas outras na estatística. Sua integral pode ser escrita
facilmente a partir da Erf, dê uma pesquisada no assunto, vale a pena.
Da mesma forma que seno e cosseno são úteis por vários motivos,
inclusive por facilitarem descrevermos o movimento harmônico, a Erf, é
útil, entre outros por facilitar o cálculo de probabilidades. A Erf
muitas vezes está associada a curva de crescimento, ou acumulo de um
fator aleatório, que é regido pela gaussiana (contágio por vírus talvez,
em certas situações e teatros fixos, seja um exemplo)>
Se tem algum interesse por estatística, há um livro muito interessante,
bem prático, não tão acadêmico, chamado de 'O Andar do Bêbado', de
Mlodinow, que como comentado no texto da lista 2, pode ser baixado de
http://93.174.95.29/main/7E14539BC4290C2E5AB9DE99F53320D0
...bem, no exemplo 5 o texto do Edwards e Penney os autores estão
explicando qual é o motivo do tal inverso da metade de raiz de pi na
definição da Erf. Isto se deve ao fato de que a integral I, com a qual
começamos este texto, dá exatamente a metade da raiz de pi.
No notebook, fazemos algumas continhas com a Erf, a integral procurada
etc., para mostrar a vocês. Os seus desenhos, dos gráficos de
Exp[-(x^2+y^2)] sobre um círculo e um quadrado estão muito legais.
parte2: como a integral imprópria I é calculada por meio de integrais
duplas em polares.
O exemplo 5 explica como as integrais duplas e as coordenadas polares
podem ser utilizadas para ver que a imprópria I dá metade de pi.
A conversa é longa, primeiro notamos que, haja vista que Exp[-x^2] é
função par, temos que
2 I(b) = Integrate[Exp[-x^2], {x, -b, b}],
trocar x por y numa integral definida não altera seu valor, portanto
2 I(b) = Integrate[Exp[-y^2], {y, -b, b}],
daí
(2I(b))^2 = Integrate[Exp[-x^2], {x, -b, b}] vezes Integrate[Exp[-y^2],
{y, -b, b}] (*)
mas isto implica numa igualdade de (2I(b))^2 com uma integral dupla num
quadrado.
Vamos explicar seja e integral dupla dada por
Integrate[Integrate[Exp[-(x^2 + y^2)], {x,-b,b}], {y,-b,b}],
pois na hora de fazer a integral dupla acima no quadrado de lado b,
podemo utilizar a propriedade da exponencial para quebrá-la num produto,
Integrate[Integrate[Exp[-x^2] Exp[-y^2], {x,-b,b}], {y,-b,b}],
lembrar que na primeira integral y é constante e podemos deixar a
'constante Exp[-y^2]' de fora da integral em x, obtendo
Integrate[Exp[-y^2] Integrate[Exp[-x^2], {x,-b,b}], {y,-b,b}],
e daí lembrar que Integrate[Exp[-x^2],{x,-b,b}] não depende de y, e
podemos deixá-lo de fora da integral em y, daí obtemos a expressão (*),
para (2I(b))^2, mais acima.
Bem será fácil obtermos I(b) se conseguirmos calcular
(2I(b))^2 = Integrate[Integrate[Exp[-(x^2 + y^2)], {x,-b,b}], {y,-b,b}]
que é uma integral dupla num quadrado de lado b, que representaria o
volume embaixo do gráfico de
z = Exp[-(x^2 + y^2)
e acima do tal quadrado, centrado no plano xy dado por z = 0, vamos
obter o limite de I(b), quando b vai para infinito ...e verificar que dá
a metade da raiz de pi.
Agora faremos algumas observações, as quais levarão a conclusão de que,
se estamos interessados no limite, podemos fazer esta integral num
círculo, em polares, que é mais fácil.
Notamos primeiro que o tal quadrado de lado 2b, centrado na origem, com
lados paralelos aos eixos x e y, pode ser inscrito num círculo centrado
na origem, de raio dado por b(2^(1/2)). Assim, se calculássemos o volume
acima deste círculo de raio b(2^(1/2)) e abaixo do tal gráfico, isto
daria maior que I(b).
Por outro lado, existe um círculo inscrito no tal quadrado, o círculo de
raio b, com centro na origem. Assim, se calculássemos o volume acima
deste círculo de raio b e abaixo do tal gráfico, isto daria menor que
I(b).
Oras, se mandamos b para infinito, daí não faz diferença se o volume
está acima de um círculo de raio b ou b(2^(1/2)), os dois limites vão
para o mesmo valor e pelo teorema do sanduíche, o limite, quando b vai
para infinito, de (2I(b))^2 é igual ao limite, quando R vai para
infinito, da integral de
z = Exp[-(x^2 + y^2)]
num círculo de raio R centrado na origem.
A tal integral, no círculo, pode ser feita em polares, assim sendo I é o
limite, quando R vai para infinito de
Ipol(R) = Integrate[Integrate[Exp[-r^2] r, {theta, 0, 2pi}], {r,0,R}]
...note que, ao passarmos para polares, trocamos x por costheta e y por
sentheta, daí x^2+y^2 vira r^2 pela relação fundamental. Além de
fazermos a troca de variáveis, devemos multiplicar o integrando pelo
fator de correção r.
Bem, a primeira integral, em theta, com r fixo, é fácil de fazer, pois
não há dependência em theta e integrar em theta apenas multiplica o
integrando por 2pi, ficamos com a segunda integral,
Ipol(R) = Integrate[2pi Exp[-r^2] r, {r,0,R}]
que agora é feita em r, variando entre 0 e o raio R do círculo ...e
acontece um lance de sorte!!! ...aquele r da correção, no integrando,
que escrevemos da forma clássica,
2pi Exp[-r^2] rdr
...está encostadinho no dr, sugere uma troca de variáveis,
u = r^2, du = 2rdr, 2piExp[-r^2]rdr = pi Exp[-u]du,
a integral da exponencial é ela mesma, aqui tem o sinal e uma primitiva
para esta integração é
-pi Exp[-u] = -pi Exp[-r^2].
Assim sendo
Ipol(R) = Integrate[2pi Exp[-r^2] r, {r,0,R}] =
= -pi Exp[-R^2] - (-pi Exp[0^2]) = pi(1 - Exp[-R^2]),
quando R tende a infinito, Ipol(R) tende a pi, portanto o limite de
(2I(b))^2, que dá (2I)^2, é igual a pi, concluímos que I vale metade da
raiz de pi.
Saudações Filosóficas. Márcio.